VAJRA PRAJÑA PARAMITA SUTRA
SUTRA DO DIAMANTE DA PERFEIÇÃO DA SABEDORIA
ÍNDICE
Introdução..............................................................................................................................03
CAPÍTULO I ........................................................................................................................06
CAPÍTULO II ......................................................................................................................07
CAPÍTULO III .....................................................................................................................08
CAPÍTULO IV .....................................................................................................................09
CAPÍTULO V ......................................................................................................................10
CAPÍTULO VI .....................................................................................................................11
CAPÍTULO VII ....................................................................................................................12
CAPÍTULO VIII ..................................................................................................................13
CAPÍTULO IX .....................................................................................................................14
CAPÍTULO X ......................................................................................................................15
CAPÍTULO XI .....................................................................................................................16
CAPÍTULO XII ....................................................................................................................17
CAPÍTULO XIII ..................................................................................................................18
CAPÍTULO XIV ..................................................................................................................19
CAPÍTULO XV ...................................................................................................................21
CAPÍTULO XVI ..................................................................................................................22
CAPÍTULO XVII ................................................................................................................ 23
CAPÍTULO XVIII ...............................................................................................................25
CAPÍTULO XIX ..................................................................................................................26
CAPÍTULO XX ...................................................................................................................27
CAPÍTULO XXI ................................................................................................................. 28
CAPÍTULO XXII .................................................................................................................29
CAPÍTULO XXIII ...............................................................................................................30
CAPÍTULO XXIV ...............................................................................................................31
CAPÍTULO XXV.................................................................................................................32
CAPÍTULO XXVI ...............................................................................................................33
CAPÍTULO XXVII ..............................................................................................................34
CAPÍTULO XXVIII ............................................................................................................35
CAPÍTULO XXIX ...............................................................................................................36
CAPÍTULO XXX ................................................................................................................37
CAPÍTULO XXXI ...............................................................................................................38
CAPÍTULO XXXII ..............................................................................................................39
GLOSSÁRIO........................................................................................................................41
VAJRA PRAJÑA PARAMITA SUTRA
SUTRA DO DIAMANTE DA PERFEIÇÃO DA SABEDORIA
INTRODUÇÃO
A versão chinesa deste Sutra foi traduzida do sânscrito pelo Mestre do Tripitaka Kumarajiva (344 – 413 EC) em 402 EC*, durante a dinastia Yao Chin.
Segundo a tradição chinesa, o Buda passou vinte e dois anos dos quarenta e cinco anos como predicador itinerante, ensinando sobre a prajna que é a forma mais elevada de sabedoria alcançada pelos seres iluminados e ensinando também os meios para a sua perfeição.
O interlocutor do Buda, neste Sutra, é o Venerável Subhuti um dos dez principais discípulos do Buda. Além dele, também há inumeráveis Bodhisattvas, Bhikshus, seres celestiais e leigos presentes na exposição do Sutra.
O lugar do encontro é um bosque de mangas, doado ao Buda pelo rico mercador da cidade de Shravasti, chamado Anathapindika, título honorífico que significa “quem doa aos necessitados”.
Ele comprou o Parque do Príncipe Jeta, filho do rei Prasenajit, pagando uma quantia de ouro suficiente para cobrir com ele todo o terreno. Subhuti era o irmão mais novo de Anathapindika e foi ordenado Bhikshu no dia em que o parque foi doado ao Buda.
Durante a dinastia Liang (502 – 557 EC) o budismo foi apoiado pelo imperador Wu e seu filho mais velho, Zhaoming que foi particularmente devoto desta versão de Kumarajiva. Este texto assume a doutrina fundamental do Mahayana de que todas as coisas são carentes de qualquer existência independente, substancial ou eterna. O Buda ensina que os Bodhisattvas não devem se apegar a nada para desenvolver a Suprema e Perfeita Iluminação e também ao fazer o voto de libertar aos seres viventes, devem superar as concepções mentais do eu, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida.
Prajnaparamita é a mais elevada forma de sabedoria que permite a compreensão de que o mundo fenomenológico é shunyata.
Neste Sutra também se fala da paramita da doação e sua retribuição. Na tradução se faz uma distinção entre os benefícios mundanos ou recompensas pela doação de objetos materiais (sete tesouros, etc.) e os benefícios espirituais ou méritos que são resultados da prática religiosa que neste caso refere-se a receber, manter, recitar e compreender este Sutra. Talvez, um dos pontos mais importantes para compreender toda a mensagem do Sutra, seja a fórmula frequentemente citada: o que é “X” não é “X”, é chamado “X”. Isto se referiria a vacuidade subjacente de todas as entidades unificadas e os nomes convencionais dados a elas, incluindo os próprios ensinamentos do Buda.
Existem outras cinco traduções deste Sutra, mas a versão de Kumarajiva continua sendo a mais popular.
* EC: Era Comum
O Tradutor desta versão :
O Mestre Kumarajiva - sua vida ilustra a natureza dos contatos entre o Budismo e a China nos primeiros séculos de nossa era. A família de Kumarajiva era originária da Índia e o chefe desta era ministro de estado por direito hereditário. O pai de Kumarajiva renunciou a esse direito para dedicar-se a vida religiosa e viajou até a Ásia Central chegando a Kutcha, na região central da bacia de Tarim. O rei de Kutcha o recebeu com todas as honras e sua irmã, de vinte anos decidiu casar-se com ele. Concebeu um filho e sinais maravilhosos manifestaram a grandeza do menino que nasceria. A futura mãe, enquanto fazia um retiro num monastério famoso, começou a compreender o sânscrito, a língua dos textos sagrados da Índia. Um homem santo lhe fez a predição de que o menino que ela iria dar à luz seria uma reencarnação de Shariputra, um dos grandes discípulos de Buda. Kumarajiva com a idade de sete anos aprendeu de memória vários Sutras e diariamente recitava mil estrofes. Com essa idade estudou o Abhidharma, os textos escolásticos do Cânon Budista. Aos nove anos viajou em companhia de sua mãe a vários lugares da Ásia Central estudando novos textos budistas e difundindo-os. Aproximadamente, no ano 401 durante a época do Imperador Yao Hsing, Kumarajiva foi tratado com grandes honras. Ele proferia conferências para monges e leigos e traduzia Sutras do sânscrito para o chinês. Colaboraram com ele numerosos monges e graças a seus estudos possuía vastos conhecimentos da literatura budista e conhecia bem o chinês. Isto lhe permitiu traduzir um grande número de textos budistas.
A data da morte de Kumarajiva é incerta. Provavelmente ocorrera no final do ano 412 ou 413 EC.
Homenagem ao Buda Shakyamuni
Convocação dos Vajra Bodhisattvas
Convocando com todo respeito o Vajra Verde, que elimina os desastres.
Convocando com todo respeito o Vajra que elimina o veneno.
Convocando com todo respeito o Vajra Amarelo, que concede os desejos.
Convocando com todo respeito o Vajra Branco, que purifica a água.
Convocando com todo respeito o Vajra Vermelho, cujo som produz fogo.
Convocando com todo respeito o Vajra que impede os desastres.
Convocando com todo respeito o Vajra Púrpura, de grande sabedoria.
Convocando com todo respeito o Vajra de grande santidade.
Convocação dos Quatro Bodhisattvas
Convocando com todo respeito o Bodhisattva que é o Vajra da família.
Convocando com todo respeito o Bodhisattva da corda grossa.
Convocando com todo respeito o Bodhisattva do afeto.
Convocando com todo respeito o Bodhisattva da linguagem.
REALIZAÇÃO DE VOTOS AO LER ESTE SUTRA
Prostro-me ao Buda dos três mundos,
refugio-me no Buda das dez direções,
eu hoje faço estes solenes Votos de sempre manter este Sutra do Diamante,
retribuir aos quatro tipos superiores de benevolência e depois resgatar os seres nos três níveis de sofrimento.
Àqueles que escutem estes Votos,
que iniciem a resolução de atingir a Bodhi.
Quando este corpo de retribuição se extinguir,
juntos renasceremos na Terra da Suprema Felicidade.
CANÇÃO DAS PERGUNTAS
Como posso alcançar um corpo indestrutível que tenha uma longa vida?
Diga-me, como alguém pode conseguir grande força e paciência?
Como posso alcançar a outra margem recitando este Sutra?
Desejo que o Buda explique estes sutis segredos e os ensine amplamente a todos os seres.
ORAÇÃO DE ABERTURA DO SUTRA
Dharma supremo, Dharma profundo,
sutil e belo como outros não há,
cujo achado centenas, milhares, milhões,
um número infinito de kalpas levará.
Hei de ver, encontrar, conservar, receber,
qual o sentido real do Tathagata há de ser,
faço o voto de para sempre o compreender.
VAJRA PRAJÑA PARAMITA SUTRA
SUTRA DO DIAMANTE DA PERFEIÇÃO DA SABEDORIA
CAPÍTULO I
Assim eu ouvi:
Uma vez o Buda estava no Reino de Shravasti, no Parque de Anathapindika e do príncipe Jeta reunido com mil duzentos e cinquenta Bhikshus. Um dia, na ocasião do desjejum, o Honrado pelo Mundo(1) colocou seu manto, pegou sua tigela e tomou o caminho para a grande cidade de Shravasti para pedir Seu sustento. Logo após ter pedido de porta em porta, de acordo com a regra, voltou ao Seu retiro levando Seu alimento. Quando terminou de Se alimentar, guardou Seu manto e Sua tigela, lavou Seus pés, tomou Seu assento e Se acomodou.
(1) Honrado pelo Mundo: Lokayestha
CAPÍTULO II
Nesse momento o Venerável Subhuti, levantou-se de seu assento na Assembleia, descobriu seu ombro direito e com seu joelho direito tocou o solo, juntou suas palmas respeitosamente e deste modo perguntou ao Buda:
“Que excepcional, Honrado pelo Mundo, o Tathagata pensa cuidadosamente em todos os Bodhisattvas. Honrado pelo Mundo, quando um bom homem ou uma boa mulher gerar a mente da Anuttara-samyak-sambodhi (Suprema e Insuperável Iluminação) como deve residir sua mente e como deve controlá-la?”
Buda respondeu:
Muito bem, muito bem, Subhuti, é como vós dizeis. O Tathagata pensa cuidadosamente em todos os Bodhisattvas protegendo-os e os instruindo bem. Agora escutais atentamente o que irei explicar-vos. Um bom homem ou uma boa mulher que gere a mente da Anuttara-samyak-sambodhi, sua mente assim deve residir e ser controlada.
“Sim, Honrado pelo Mundo, alegremente desejamos ouvir-Te.”
CAPÍTULO III
Buda disse:
Subhuti, eis aqui como todo Bodhisattva Mahasattva assim deve controlar sua mente:
Devo fazer com que todos os seres viventes, aqueles nascidos de ovos, nascidos de úteros, nascidos da umidade, nascidos por transformação, aqueles com forma, aqueles sem forma, aqueles que têm percepção, aqueles sem percepção, aqueles nem com percepção nem sem percepção– entrem no Nirvana e cruzem à outra margem para a libertação. Todavia por mais vastos, incontáveis e imensuráveis que sejam os números de seres que assim tenham sido cruzados à libertação, em realidade nenhum ser foi cruzado à libertação. Subhuti, se há um Bodhisattva apegado a concepção do “eu”, a concepção de um indivíduo, a concepção de um ser vivente ou de um período de vida, então ele não é um Bodhisattva.
CAPÍTULO IV
Além disso, Subhuti, a respeito dos fenômenos, um Bodhisattva não deve se apegar a nada quando pratica o dar. Quando o faz não deve se apegar às formas, sons, odores, sabores, tato ou pensamentos.
Subhuti, um Bodhisattva deve dar assim, sem se apegar às aparências. Por que razão? Porque se o Bodhisattva pode doar sem se apegar às aparências, seus méritos e virtudes serão incomensuráveis. Subhuti, o que pensais? O espaço para o Leste é mensurável?
“Não, Honrado pelo Mundo. Não o é.”
Subhuti, é mensurável o espaço para o Sul, para o Oeste, para o Norte, em direção ao Zênite(2) e ao Nadir(3)?
“Não, Honrado pelo Mundo. Não o é.”
Os méritos e virtudes de um Bodhisattva que não se apega às aparências quando doa são igualmente incalculáveis. Subhuti, um Bodhisattva deve agir de acordo com este ensinamento.
(2): zênite: ponto mais elevado
(3): nadir: ponto mais baixo oposto ao zênite
CAPÍTULO V
Subhuti, o que pensais? O Tathagata pode ser reconhecido pela aparência do corpo?
“Não, Honrado pelo Mundo. Não é possível reconhecer o Tathagata pela aparência do Seu corpo. Por que razão? Porque o Tathagata diz que a aparência de um corpo não é a aparência de um corpo.”
O Buda disse à Subhuti:
Tudo o que tem aparência é vazio e ilusório, mas aquele que percebe que as aparências não são aparências, vê ao Tathagata.
CAPÍTULO VI
Subhuti pergunta ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, haverá pessoas que no futuro quando ouvirem estas palavras acreditarão nestas com confiança verdadeira ou não?”
O Buda responde à Subhuti:
Não deveis falar assim! Ao término do último período de quinhentos anos seguintes da passagem do Tathagata, haverá pessoas que manterão os preceitos e cultivarão méritos, e ao ouvir estes ensinamentos acreditarão neles com confiança.
Deveis saber que estas pessoas plantaram boas raízes não apenas com um Buda, dois Budas, três Budas, quatro Budas ou cinco Budas. Elas plantaram boas raízes com incalculáveis milhares de milhares de Budas.
Todos os que escutam estas frases até os que produzem um pensamento de convicção pura, Subhuti, são todos conhecidos e vistos pelo Tathagata. Todos estes seres obtêm assim, incalculáveis méritos e virtudes. Por que razão?
Nenhuma destas pessoas possui a concepção de um “eu”, a concepção de um indivíduo, a concepção de um ser vivente ou de um período de vida. Eles tampouco têm a concepção dos fenômenos nem a concepção dos não fenômenos. Por que razão?
Porque se tais pessoas permitissem ter suas mentes apegadas à alguma concepção possuiriam apego a um “eu”, a um indivíduo, a um ser vivente ou a um período de vida. Se eles estivessem apegados à concepção dos fenômenos possuiriam apego a um “eu”, a um indivíduo, a um ser vivente ou a um período de vida; e se estivessem apegados aos não fenômenos possuiriam apego a um “ eu”, a um indivíduo, a um ser vivente ou a um período de vida.
Por esta razão, vós não deveis estar apegados aos fenômenos nem aos não fenômenos.(4)
Com respeito a isto, o Tathagata frequentemente diz: “Todos vocês, Bhikshus, deveis saber que o Dharma que eu ensino é como na parábola da jangada. O Dharma deve ser abandonado, muito mais ainda o que não é Dharma.”
(4) Fenômenos: dharmas ou qualidades intrínsecas de qualquer coisa
CAPÍTULO VII
Subhuti, o que pensais? O Tathagata tem atingido a realização da Anuttara-samyak-sambodhi? Tem o Tathagata um ensinamento para enunciar?
Subhuti respondeu:
“Segundo eu entendo o ensinamento de Buda, não há um Dharma fixo chamado Anuttara-samyak-sambodhi e tampouco há um Dharma fixo sobre o qual o Tathagata possa falar. Por que razão? O ensinamento do Tathagata não pode ser obtido nem pode ser falado, ele não é o Dharma nem o não Dharma. Os virtuosos sábios (5) caracterizam-se pelos fenômenos incondicionados (6).”
(5) Sábios: os que têm eliminado a ilusão e percebem a Verdadeira Realidade.
(6) Asamskrta (fenômenos incondicionados): qualquer coisa não sujeita a causa, condição ou dependência; fora do tempo, eterno, supramundano.
CAPÍTULO VIII
Subhuti, o que pensais? Se alguém doasse os sete grandes tesouros e cobrisse com eles os três mil grandes milhares de mundos, conseguiria muitos méritos e virtudes ou não?
Subhuti respondeu: “Muitos, Honrado pelo Mundo.”
Por que razão? Estes méritos e virtudes, por sua natureza, não são méritos e virtudes, por isso o Tathagata fala de muitos méritos e virtudes.
Se, no entanto, houver alguma pessoa que receba e mantenha este Sutra, ou tão somente quatro versos ou mais e os transmitir para outras pessoas, seus méritos superarão os da pessoa anterior.
Por que razão, Subhuti? Todos e cada um dos Budas e todos os seus Dharmas da Anuttara-samyak-sambodhi surgem deste Sutra.
Subhuti, o que é chamado Dharma de Buda não é o Dharma de Buda.
CAPÍTULO IX
Subhuti, o que pensais? Um Srotaapanna pode ter este pensamento? Eu obtive o fruto do Srotaapanna ou não?
Subhuti disse:
“Não pode, Honrado pelo Mundo. Por que razão? Srotaapanna é aquele que entra na corrente, mas em realidade não há um lugar para entrar. Não entra na forma, som, odor, sabor, tato ou pensamentos. Por isso são chamados Srotaapannas.”
Subhuti, o que pensais? Um Sakrdagamin pode ter este pensamento? Eu obtive o fruto do Sakrdagamin ou não?
Subhuti disse:
“Não pode, Honrado pelo Mundo. Por que razão? Sakrdagamin é aquele que retorna mais uma vez, mas em realidade não há um retorno. Por isso são chamados Sakrdagamins.”
Subhuti, o que pensais? Um Anagamin pode ter este pensamento? Eu obtive o fruto do Anagamin ou não?
Subhuti disse:
“Não pode, Honrado pelo Mundo. Por que razão? Anagamin é aquele que não retorna, mas em realidade não existe um retorno. Por isso são chamados Anagamins.”
Subhuti, o que pensais? Um Arhat pode ter este pensamento? Eu obtive o Caminho de Arhat ou não?.
Subhuti disse:
“Não pode, Honrado pelo Mundo. Por que razão? Realmente não há um fenômeno chamado Arhat. Honrado pelo Mundo, se um Arhat tem este pensamento: ‘eu obtive o Caminho de Arhat’ significa que ele apegou-se ao “eu”, a um indivíduo, a um ser vivente ou ao período de vida. Honrado pelo Mundo, o Buda disse que eu obtive o arana-samadhi(7), que eu sou o primeiro entre os homens, que eu sou o primeiro Arhat livre de desejo. Eu não tenho o pensamento ‘eu sou um Arhat livre de desejo’. Honrado pelo Mundo, se eu tivesse este pensamento ‘eu obtive o Caminho de Arhat’, então o Honrado pelo Mundo não poderia dizer: ‘Subhuti é o primeiro entre aqueles que se deleitam na prática aranya(8)’.”
Como Subhuti realmente não tem nada a praticar, então ele é chamado: Subhuti, aquele que se deleita na prática aranya.
(7) arana-samadhi: concentração do “não conflito”. Arana significa não-conflito que é outra forma de se referir as aflições.
(8) aranya: este termo literalmente significa “floresta”, mas é usado para descrever um lugar calmo e isolado para a prática. Estes lugares não devem estar muito perto nem muito longe das áreas urbanas.
CAPÍTULO X
Buda disse à Subhuti:
O que pensais, no passado quando o Tathagata estava com o Buda Dipamkara (9), houve alguma obtenção do Dharma ou não?
“Não, Honrado pelo Mundo, no passado quando o Tathagata estava com o Buda Dipamkara, em realidade não houve obtenção do Dharma.”
Subhuti, o que pensais, um Bodhisattva adorna as Terras de Buda ou não?
“Não, Honrado pelo Mundo. Por que razão? O adorno das Terras de Buda não é um adorno, por isso é chamado adorno.”
Por isso, Subhuti, todos os Bodhisattvas, Mahasattvas devem fazer surgir a mente pura. Não devem se apegar as formas para gerar esta mente. Não devem se apegar aos sons, odores, sabores, tato ou pensamentos para gerar esta mente. Não devem se apegar a nada para assim gerar esta mente. Subhuti, por exemplo, se existisse uma pessoa tão grande quanto o Sumeru, o Rei das Montanhas, o que pensais? Tal corpo seria grande ou não?
Subhuti respondeu: “Muito grande, Honrado pelo Mundo. Por que razão?
O Buda disse que não é um corpo, é chamado um grande corpo”.
(9) Buda Dipamkara: Buda Lâmpada Ardente
CAPÍTULO XI
Subhuti, se houvesse tantos rios Ganges quantos os grãos de areia existentes no rio Ganges, o que pensais? Os grãos de areia destes rios Ganges seriam muitos ou não?
Subhuti respondeu:
“Muitíssimos, Honrado pelo Mundo. Os próprios rios Ganges seriam inumeráveis, quanto mais seus grãos de areia.”
Subhuti, direi a vós esta verdade:
Se um bom homem ou uma boa mulher oferecesse os sete tesouros em número igual aos grãos de areia dos rios Ganges e cobrisse com eles os três mil grandes milhares de sistemas de mundos, essa pessoa obteria muitas bênçãos ou não?
Subhuti respondeu: “Muitíssimas, Honrado pelo Mundo.”
O Buda disse à Subhuti:
Se, um bom homem ou uma boa mulher recebe e mantém tão somente quatro versos deste Sutra e os transmite à outrem, seus méritos e virtudes superarão os méritos e virtudes mencionadas anteriormente.
CAPÍTULO XII
Além disso, Subhuti, vós deveis saber que aonde quer que este Sutra seja recitado, ou até apenas quatro de seus versos, neste lugar todos os deuses, homens e asuras farão oferendas como se fosse uma Stupa de Buda.
Quanto mais no caso de uma pessoa que frequentemente possa receber, manter, ler e recitar de memória este Sutra por completo. Subhuti, vós deveis saber que tal pessoa tem alcançado o mais elevado e insuperável Dharma. Aonde quer que este Sutra possa ser achado, haverá um Buda ou um respeitável discípulo.
CAPÍTULO XIII
Nesse momento, Subhuti perguntou ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, como devemos chamar este Sutra? Como devemos recebê-lo e mantê-lo?”
O Buda respondeu à Subhuti:
Este Sutra deve ser chamado Vajra Prajñaparamita (Sutra do Diamante da Perfeição da Sabedoria). Com este nome vocês devem recebê-lo e mantê-lo. Por que razão? Subhuti, o Buda ensinou que a Prajñaparamita não é a Prajñaparamita. Subhuti, o que pensais?
O Tathagata tem falado o Dharma ou não?
Subhuti respondeu ao Buda: “Honrado pelo Mundo, o Tathagata nada tem falado.”
Subhuti, o que pensais? As partículas de pó dos três mil grandes mundos são muitas ou não?
Subhuti respondeu: “Muitíssimas, Honrado pelo Mundo.”
Subhuti, o Buda disse que todas as partículas de pó não são partículas de pó, são apenas chamadas partículas de pó.
O Buda disse que um mundo não é um mundo, é apenas chamado mundo.
Subhuti, o que pensais? É possível reconhecer o Tathagata pelas trinta e duas marcas ou não?
“Não, Honrado pelo Mundo. O Tathagata não pode ser reconhecido pelas trinta e duas marcas. Por que razão? O Tathagata disse que as trinta e duas marcas não são marcas, são apenas chamadas trinta e duas marcas.”
Subhuti, se um bom homem ou uma boa mulher oferecesse seu corpo e vida tantas vezes como os grãos de areia do rio Ganges e se outra pessoa recebesse e mantivesse até quatro versos deste Sutra e os transmitisse à outrem os méritos desta última serão ainda maiores.
CAPÍTULO XIV
Quando Subhuti ouviu este Sutra e compreendeu seu profundo significado, chorou comovido e disse ao Buda:
“Que excepcional, Honrado pelo Mundo. Vós haveis pregado este Sutra supremamente profundo. Jamais eu ouvi tal exposição desde que obtive a visão da sabedoria. Honrado pelo Mundo, se alguém escuta este Sutra com uma mente de convicção pura, surgirá nele a Verdadeira Realidade. Vós então sabereis que tal pessoa terá alcançado o mais admirável dos méritos e virtudes. Honrado pelo Mundo, a Verdadeira Realidade não é uma concepção. Por isso o Tathagata ensina que a Verdadeira Realidade é somente um nome. Honrado pelo Mundo, agora que eu posso ouvir sem muita dificuldade este Sutra, eu o compreendo, o recebo e o mantenho.
Se no futuro, depois de quinhentos anos, houver seres viventes que conseguirem escutar este Sutra, compreendê-lo, recebê-lo e mantê-lo com convicção, estas pessoas serão muito poucas. Por que razão?
Tais pessoas não possuirão a concepção do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida. Como é isto? A concepção de um “eu” não é uma concepção. A concepção de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida não são concepções. Por que razão?
Todos os que têm se libertado de todas as concepções são chamados Budas.”
Buda disse à Subhuti:
Assim é, assim é. Saiba que, se houver pessoas que conseguem ouvir este Sutra sem se assustar, sem se aterrorizar e sem se atemorizar, elas serão extremamente raras. Por que razão, Subhuti?
O Tathagata ensina que a suprema paramita não é a suprema paramita, é chamada suprema paramita.
Subhuti, o Tathagata ensina igualmente que a paramita da paciência não é a paramita da paciência. Por que razão, Subhuti?
É como no passado quando o rei Kalinga desmembrou meu corpo. Nesse momento eu já não possuía a concepção do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida. Por que razão?
No momento, quando meus membros estavam sendo cortados, se eu tivesse ainda as concepções acima citadas teriam surgido em Mim sentimentos de raiva e ódio.
Subhuti, Me lembro que há muito tempo atrás, durante minhas quinhentas vidas anteriores, Eu fui um asceta praticante da paciência. Naquelas vidas Eu já estava livre da concepção do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida. Por isso, Subhuti, um Bodhisattva deve abandonar todas as concepções e gerar a mente da Anuttara-samyak-sambodhi.
Eles não devem fazer surgir a mente que mora nas formas, nos sons, nos odores, nos sabores, no tato e nos pensamentos. Eles devem fazer surgir uma mente que não depende de nada. Se a mente é dependente, então ela é não dependente. Por isso o Buda ensina que a mente de um Bodhisattva deve doar sem depender das formas. Subhuti, um Bodhisattva deve assim doar para beneficiar a todos os seres.
O Tathagata declara que: “Todas as concepções não são concepções, além disso, falou que todos os seres viventes não são seres viventes”.
Subhuti, o Tathagata é Aquele que declara o que é verdadeiro, o que é real. Diz o que é, não diz o que é falso, não fala o que não é.
Subhuti, o Dharma obtido pelo Tathagata não é nem real nem irreal.
Subhuti, se um Bodhisattva pratica a doação com a mente apegada aos fenômenos, ele é como uma pessoa que entra na escuridão sem poder ver nada. Mas, se um Bodhisattva pratica a doação sem apego a qualquer fenômeno é como uma pessoa com olhos que enxerga todo tipo de formas iluminadas pela brilhante luz do sol.
Subhuti, se no futuro houver bons homens e boas mulheres que possam receber este Sutra, mantê-lo, lê-lo e recitá-lo de memória, então estas pessoas serão como o Tathagata com a sabedoria de Buda e assim entenderão e verão; cada um deles receberá ilimitados e inumeráveis méritos e virtudes.
CAPÍTULO XV
Subhuti, se um bom homem ou uma boa mulher no primeiro período do dia doar tantos corpos como grãos de areia do rio Ganges, no período do meio do dia doar ainda mais tantos corpos como grãos de areia do rio Ganges e no último período do dia doar tantos corpos como grãos de areia do rio Ganges, doando corpos desta forma através de ilimitados centos de milhares e milhões de Kalpas e se, por outro lado, uma pessoa escuta este Sutra com confiança, sem opor-se, seus méritos serão ainda maiores que os da pessoa anterior. Tão mais abençoado, em comparação, será aquele que escrever, receber, manter, ler, recitar de memória e explicar este ensinamento a outros.
Subhuti, é importante dizer que este Sutra tem inconcebíveis, imensuráveis e ilimitados méritos e virtudes.
O Tathagata pregou este Ensinamento para os que pertencem ao Grande Veículo (Mahayana), para os que pertencem ao Supremo Veículo. Quem quer que possa receber, manter, ler, recitar de memória e difundir este Ensinamento para muitas outras pessoas, então esta pessoa será como o Tathagata e assim entenderá e verá. Desta forma alcançará inconcebíveis, imensuráveis e ilimitados méritos e virtudes. Tal pessoa assumirá a responsabilidade da Anuttara-samyak-sambhodi do Tathagata. Por que razão, Subhuti? Se houver pessoas que se contentam com o Dharma Menor e estiverem apegados a visão do “eu”, a visão de um indivíduo, de um ser vivente ou a visão de um período de vida, estarão impossibilitados de escutar, receber, ler e recitar de memória este Sutra e explicá-lo para as outras pessoas.
Subhuti, em todo lugar aonde este Sutra se encontrar, todos os deuses, homens e asuras de todos os reinos farão oferendas. Devereis saber que este lugar será tão sagrado como uma Stupa. Eles o reverenciarão, fazendo prostrações, circunvagando-o e espalhando todo tipo de flores e incenso.
CAPÍTULO XVI
Além disso, Subhuti, se um bom homem ou uma boa mulher recebe, mantêm, lê e recita de memória este Sutra e outra pessoa o menospreza, a pessoa menosprezada possui mau karma que o destinaria a cair nos maus reinos. Devido a que esta pessoa recebe este menosprezo, suas ofensas kármicas passadas se reduzirão e extinguirão, desta forma alcançará a Anuttara-samyak-sambodhi.
Subhuti, eu lembro no passado, ilimitados asamkhyeya kalpas prévios ao Buda Dipamkara, eu fiz todo tipo de oferendas a oitenta e quatro mil milhares de milhões de nayuta de Budas e servi a todos eles sem exceção.
Mas, se existir uma pessoa que no período final possa receber, manter, ler e recitar de memória este Sutra obterá mais méritos e virtudes do que Eu obtive fazendo oferendas à todos os Budas, cem vezes mais, mil vezes mais, um milhão, mil milhões de vezes mais ao ponto de superar todo cálculo e comparação.
Subhuti, se um bom homem ou uma boa mulher, no período final, recebe, mantêm, lê e recita de memória este Sutra, seus méritos e virtudes serão tais que se Eu falasse completamente sobre estes, aqueles que me escutam poderiam se perturbar e confundir, duvidar e não acreditar. Subhuti, você deve saber que o significado deste Sutra é inconcebível, sua retribuição também é inconcebível.
CAPÍTULO XVII
Neste momento, Subhuti perguntou ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, um bom homem ou uma boa mulher que gere a mente da Anuttara-samyak-sambodhi, como deve residir sua mente e como deve controlá-la?”
O Buda respondeu à Subhuti:
Se um bom homen ou uma boa mulher gera a mente da Anuttara-samyak-sambodhi deve fazer surgir uma mente assim: “eu devo libertar a todos os seres viventes”, porém depois de libertar a todos os seres viventes, na realidade nem mesmo um só ser vivente terá sido libertado. Por que razão?
Se um Bodhisattva tem a concepção do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida ele não é um Bodhisattva. Como é isto, Subhuti?
Na realidade não existe um fenômeno que gere a mente da Anuttara-samyak-sambodhi.
Subhuti, o que pensais? Quando o Tathagata estava com o Buda Dipamkara alcançou ou não o fenômeno da Anuttara-samyak-sambodhi?
“Não, Honrado pelo Mundo, segundo minha compreensão do que o Buda ensinou, quando o Buda esteve com o Buda Dipamkara não alcançou nenhum fenômeno da Anuttara-samyak-sambodhi.”
Buda disse:
Assim é, assim é, Subhuti. Na realidade o Tathagata não alcançou nenhum fenômeno da Anuttara-samyak-sambodhi.
Subhuti, se o Buda tivesse alcançado o fenômeno da Anuttara-samyak-sambodhi, o Buda Dipamkara não teria predito que Eu em eras futuras viria a ser um Buda chamado Shakyamuni. Mas, como de fato, não existe nenhum fenômeno da Anuttara-samyak-sambodhi, por esta razão o Buda Dipamkara pode fazer a predição que Eu em eras futuras viria a ser um Buda chamado Shakyamuni. Por que razão?
Tathagata significa que todos os fenômenos são tal como são.
Se alguém disser que o Tathagata alcançou a Anuttara-samyak-sambodhi, Subhuti, em realidade não há um fenômeno que o Buda alcançou que seja a Anuttara-samyak-sambodhi. Subhuti, a Anuttara-samyak-sambodhi que o Tathagata alcançou não é nem real nem irreal; por isso o Tathagata disse que todos os fenômenos são Budadharmas.
Subhuti, digo que todos os fenômenos não são fenômenos, apenas são chamados fenômenos. Subhuti, suponha que o corpo de alguém é muito grande.
Subhuti disse:
“Honrado pelo Mundo, o Tathagata disse que o grande corpo de uma pessoa não é um grande corpo, é chamado grande corpo.”
Subhuti, assim acontece também com um Bodhisattva. Se ele disser: “eu devo libertar infinitos seres viventes”, ele não pode ser chamado Bodhisattva. Por que razão, Subhuti?
Em realidade não há um fenômeno chamado Bodhisattva. Por isso, o Buda fala que todos os fenômenos carecem de um ego, de uma individualidade, de uma existência ou de um período de vida.
Subhuti, se um Bodhisattva disser: “eu adornarei as Terras de Buda”, ele não pode ser chamado Bodhisattva. Por que razão?
Porque o Tathagata declarou que o adorno das Terras de Buda não é um adorno, apenas é chamado de adorno. Subhuti, se um Bodhisattva penetra e realiza o ensinamento do “ não- eu”, o Tathagata o chama um verdadeiro Bodhisattva.
CAPÍTULO XVIII
Subhuti, o que pensais? O Tathagata possui olhos físicos ou não?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. O Tathagata possui olhos físicos.”
Subhuti, o que pensais? O Tathagata possui o Olho Divino ou não?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. O Tathagata possui o Olho Divino.”
Subhuti, o que pensais? O Tathagata possui o Olho da Sabedoria ou não?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. O Tathagata possui o Olho da Sabedoria.”
Subhuti, o que pensais? O Tathagata possui o Olho do Dharma ou não?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. O Tathagata possui o Olho do Dharma.”
Subhuti, o que pensais? O Tathagata possui o Olho de Buda ou não?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. O Tathagata possui o Olho de Buda.”
Subhuti, o que pensais? O Tathagata falou sobre os grãos de areia do rio Ganges?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. O Tathagata falou sobre estes grãos de areia.”
Subhuti, o que pensais? Se todos os grãos de areia de um rio Ganges transformaram-se em igual número de rios Ganges e todos esses rios Ganges transformaram-se em tantos mundos de Buda, estes seriam muitos ou não?
“Muitíssimos, Honrado pelo Mundo.”
Buda disse à Subhuti:
Dentro destes mundos existem seres viventes com diversos tipos de mentes. O Tathagata a todas elas conhece por completo. Por que razão?
O Tathagata ensina que todas estas mentes não são mentes, são chamadas mentes. Como é isto, Subhuti?
A mente do passado é impossível obter.
A mente do presente é impossível obter.
A mente do futuro é impossível obter.
CAPÍTULO XIX
Subhuti, o que pensais? Se uma pessoa cobrisse os três milhares de milhões de mundos com os sete tesouros por ela doados, devido a estas causas e condições esta pessoa obteria muitos méritos ou não?
“Assim é, Honrado pelo Mundo. Esta pessoa devido a estas causas e condições obteria muitíssimos méritos.”
Subhuti, se os méritos fossem reais, o Tathagata não falaria da obtenção de muitos méritos. Porque não há méritos, o Tathagata fala de obter muitos méritos.
CAPÍTULO XX
Subhuti, o que pensais? O Tathagata pode ser visto na perfeição de Sua forma física ou não?
“Não, Honrado pelo Mundo. O Tathagata não pode ser visto na perfeição de Sua forma física. Por que razão? Porque o Tathagata ensina que a perfeição da forma física não é a perfeição da forma física, é chamada perfeição da forma física.”
Subhuti, o que pensais? O Tathagata pode ser visto na perfeição de Suas marcas?
“Não, Honrado pelo Mundo. O Tathagata não pode ser visto na perfeição de Suas marcas. Por que razão? Porque o Buda ensina que a perfeição das marcas não é a perfeição das marcas, apenas é chamada perfeição das marcas.”
CAPÍTULO XXI
Subhuti, não afirmeis vós que o Tathagata tem este pensamento: Eu devo falar o Dharma. Não penseis assim. Por que razão?
Se alguma pessoa disser que o Tathagata falou o Dharma, esta pessoa difama ao Buda porque ela é incapaz de compreender o que Eu tenho dito.
Subhuti, no ato de falar o Dharma não há um Dharma que possa ser falado, apenas é chamado Dharma falado.
Neste momento, o sábio Subhuti disse ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, no futuro existirão seres viventes que ao ouvir a exposição deste Dharma surgirá nelas a confiança ou não?”
Buda respondeu:
Subhuti, não há seres viventes nem não seres viventes. Por que razão, Subhuti?
Esses seres viventes, o Tathagata disse, não são seres viventes, apenas são chamados seres viventes.
CAPÍTULO XXII
Subhuti perguntou ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, alcançou o Tathagata a Anuttara-samyak-sambodhi sem nada ter alcançado?”
O Buda respondeu:
Assim é, assim é, Subhuti. A respeito da minha realização da Anuttara-samyak-sambodhi, não há nem sequer o menor dharma que possa ter alcançado, apenas é chamado Anuttara-samyak-sambodhi.
CAPÍTULO XXIII
Novamente, Subhuti. Este Dharma é imparcial, sem diferenciação entre superior ou inferior, portanto é chamado Anuttara-samyak-sambodhi. Praticar os bons fenômenos sem um ego, uma individualidade, uma existência ou um período de vida é chamado Anuttara-samyak-sambodhi. Subhuti, o Tathagata fala que esses bons fenômenos não são bons fenômenos, apenas são chamados bons fenômenos.
CAPÍTULO XXIV
Subhuti, se houver uma pessoa que doasse acúmulos dos sete tesouros iguais em quantidade a todos os Reis das Montanhas Sumerus, aos três milhares de milhões de mundos, e se outra pessoa recebe, mantem, lê, recita de memória e transmite para outros ainda que apenas quatro versos deste Sutra da Perfeição da Sabedoria ( Prajña Paramita Sutra), seus méritos serão superiores à da pessoa anterior por mais de centenas de milhares de milhões de bilhões, além de qualquer comparação que as possa expressar.
CAPÍTULO XXV
Subhuti, o que pensais? Vós não deveis imaginar que o Tathagata tem este pensamento: “Eu devo libertar aos seres viventes”. Subhuti, vós não deveis pensar desta forma. Por que razão?
Porque na realidade não há nenhum ser vivente que seja libertado pelo Tathagata. Se houvessem seres viventes libertados pelo Tathagata, então o Tathagata teria a concepção do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida. Subhuti, o Tathagata disse que um “eu”existente não é um “eu” existente, embora as pessoas comuns acreditem na existência do “eu”.
Subhuti, o Tathagata disse que as pessoas comuns não são pessoas comuns, são apenas chamadas pessoas comuns.
CAPÍTULO XXVI
Subhuti, o que pensais? É possível contemplar o Tathagata nas trinta e duas marcas ou não?
Subhuti respondeu:
“Assim é, assim é. É possível contemplar o Tathagata nas trinta e duas marcas.”
O Buda disse:
Subhuti, se é possível reconhecer o Tathagata nas trinta e duas marcas, então qualquer Grande Rei Que Gira a Roda é um Tathagata.
Subhuti disse então ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, segundo eu entendo o significado das palavras de Buda, não é possível reconhecer o Tathagata pelas trinta e duas marcas.”
Nesse momento, o Honrado pelo Mundo recitou estes versos:
Quem na aparência quiser me ver,
Ou quem no som me reconhecer,
num caminho errado estará
e ao Tathagata ver não poderá.
CAPÍTULO XXVII
Subhuti, se vós concebeis o pensamento : não é devido a perfeição das marcas que o Tathagata alcançou a Anuttara-samyak-sambodhi ; Subhuti, vós não deveis pensar: não é devido a perfeição das marcas que o Tathagata alcançou a Anuttara-samyak-sambodhi.
Se vós tendes este pensamento:“os que geram a mente da Anuttara-samyak-sambodhi falam que todos os fenômenos se caracterizam pela aniquilação”, não deveis ter este pensamento. Por que razão? Aqueles que geram a mente da Anuttara-samyak-sambodhi não falam que os fenômenos caracterizam-se pela aniquilação (10 ).
(10) aniquilação: posição filosófica extrema de que todos os fenômenos são passíveis de serem destruidos. Esta opinião nega a existência da causa e efeito, do renascimento e tem afinidade com o niilismo..
CAPÍTULO XXVIII
Subhuti, se um Bodhisattva doasse os sete tesouros a tantos sistemas de mundos quantos os grãos de areia que há no rio Ganges e se outro compreendesse que todos os fenômenos carecem de um “eu” alcançando a convicção (11), os méritos e virtudes deste Bodhisattva serão superiores aos do Bodhisattva anterior. Por que razão?
Subhuti, por esta razão nenhum Bodhisattva recebe méritos.
Subhuti pergunta ao Buda:
“Honrado pelo Mundo, por que razão o Senhor disse que os Bodhisattvas não recebem méritos?”
Subhuti, os Bodhisattvas não devem se apegar aos méritos ganhos, por isso Eu ensino que os Bodhisattvas não recebem méritos.
(11) refere-se à convicção do não surgimento.
CAPÍTULO XXIX
Subhuti, se houver alguma pessoa que diz que o Tathagata vem ou vai, senta-se ou deita-se esta pessoa não compreende o significado do Meu ensinamento. Por que razão? Porque o Tathagata não vem de nenhum lugar nem vai à algum lugar, por isso Ele é chamado Tathagata.
CAPÍTULO XXX
Subhuti, se um bom homen ou uma boa mulher moessem os três mil grandes sistemas de mundos até reduzi-los a minúsculas partículas de pó, o que vós pensais? Tais minúsculas partículas de pó seriam muitas ou não?
“Muitíssimas, Honrado pelo Mundo. Por que razão? Porque se tais minúsculas partículas de pó realmente existissem o Buda não teria falado a respeito delas como minúsculas partículas de pó. Por que razão? O Buda declarou que tais minúsculas partículas de pó não são minúsculas partículas de pó, apenas são chamadas minúsculas partículas de pó.
Honrado pelo Mundo, o Tathagata fala dos três mil grandes milhares de sistemas de mundos como não sendo sistemas de mundos, apenas são chamados sistemas de mundos. Por que razão? Se existissem realmente os sistemas de mundos existiria uma entidade unificada. O Tathagata ensina que uma entidade unificada não é uma entidade unificada, apenas é chamada entidade unificada.” (12)
Subhuti,não se pode falar da entidade unificada , mas as pessoas comuns apegam-se a tal coisa.
(12) entidade unificada: aquilo que é completo por si mesmo.
CAPÍTULO XXXI
Subhuti, se alguma pessoa diz que o Buda fala acerca da visão do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente, ou de um período de vida, Subhuti, o que pensais? Esta pessoa compreendeu o significado do Meu ensinamento ou não?
“Não, Honrado pelo Mundo. Tal pessoa não compreendeu o significado do ensinamento do Tathagata. Por que razão? O Tathagata fala que a visão do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida, não é a visão do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida, apenas é chamada visão do “eu”, de um indivíduo, de um ser vivente ou de um período de vida.”
Subhuti, aqueles que geram a mente da Anuttara-samyak-sambodhi devem assim saber, assim ver, assim acreditar e assim compreender todos os fenômenos e não deixar surgir as concepções dos fenômenos.
Subhuti, acerca das concepções dos fenômenos, o Tathagata diz que não são concepções dos fenômenos, apenas são chamadas concepções dos fenômenos.
CAPÍTULO XXXII
Subhuti, se alguém doasse os sete tesouros cobrindo inumeráveis sistemas de mundos e se houvesse um bom homen ou uma boa mulher que gerasse a mente de Bodhisattva mantendo deste Sutra apenas quatro versos recebendo-os, mantendo-os, lendo-os, recitando-os de memória e transmitindo-os para outras pessoas, seus méritos serão superiores aos méritos da pessoa anterior. Como deve ser transmitido este Sutra para outras pessoas? Sem se apegar as concepções, Tal como É ( Tathata) e inabalável. Por que razão?
Todos os fenômenos condicionados
são como sonhos, ilusões, borbulhas e sombras.
São como gotas de orvalho e o resplendor do trovão.
Assim devem ser contemplados.
Logo que o Buda finalizou este Sutra, o ancião Subhuti e todos os Bhikshus, Bhikshunis, Upasakas, Upasikas, todos os seres celestiais, asuras e outros escutaram o que o Buda disse e com alegria acreditaram, receberam, louvaram e o praticaram.
ORAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE MÉRITO
Os três obstáculos e as nossas aflições desejamos erradicar,
a sabedoria e a compreensão desejamos alcançar,
os obstáculos das ofensas em um Voto Universal totalmente eliminar.
O Caminho dos Bodhisattvas através dos renascimentos sempre praticar.
GLOSSÁRIO
ANUTTARA-SAMYAK-SAMBODHI – A Suprema e Insuperável Iluminação de um Buda. Caracteriza-se pela posessão da onisciência e dos dez poderes.
ASANKHYEYA - Cifra com uma unidade seguida por 140 zeros. Tem o significado de incalculável.
ASURAS - Seres com bênçãos, mas que ainda possuem vaidade, raiva e desconfiança.
ATRAVESSAR À OUTRA MARGEM - Cruzar o mar do sofrimento e chegar à margem do Nirvana.
APARÊNCIAS - As marcas de um fenômeno: Cor, forma, tamanho, etc., pelas quais os objetos ou pessoas são discriminados.
BHIKSHU - Mendicante religioso que deixou a vida em família, que recebeu a ordenação completa e depende de esmolas para viver.
BODHI – Sabedoria.
BODHISATTVA - O ideal do Mahayana. Ser de sabedoria que aspira a própria Iluminação e a dos outros seres.
BUDA - Significa “o desperto”. Aquele que tem percebido a verdadeira natureza de todos os fenômenos , tem superado todo sofrimento e ensina aos outros compassivamente.
BUDA DIPAMKARA (Lâmpada Ardente) - Buda do passado que foi mestre de Shakyamuni numa de suas vidas anteriores.
CAUSAS E CONDIÇÕES - A origem do surgimento de todos os fenômenos. As causas produzem resultados diretamente e as condições produzem resultados e efeitos indiretamente.
CONCEPÇÕES - Percepção dos fenômenos como se estes existissem independentemente de outros fenômenos.
CINCO OLHOS - Classificação dos olhos ou da visão desenvolvida pelos seres. Olho físico é a visão comum de um ser humano. Olho Divino é a visão dos devas, Olho da Sabedoria é a visão do praticante Theravada, Olho do Dharma é a visão dos Bodhisattvas que compreendem as mentes dos seres e o Olho Búdico é a onisciência e inclui todas as outras visões.
DEVAS - Seres celestiais.
DEZ DIREÇÕES - Leste, Oeste, Norte, Sul, as quatro direções intermediárias, Nadir e Zenit.
DHARMA OU BUDADHARMA - Doutrina budista.
dharma – Fenômeno, verdade, ensinamento, natureza, toda coisa e todo estado condicionado ou incondicionado.
DOAR - A primeira paramita ou perfeição das seis paramitas que constituem as práticas do Bodhisattva. Doar corpos (a vida) em favor de todos os seres.
GRANDE REI QUE GIRA A RODA - Que proclama para o mundo a doutrina do Buda.
GRANDE VEÍCULO (MAHAYANA) - Ramo do pensamento budista que oferece reinterpretações da doutrina budista em um completo novo corpo de literatura e Sutras. Caracteriza-se pela noção de vacuidade e a ênfase na compaixão.
KALPA – Um período de tempo excessivamente longo.
LOKAYESTHA - Honrado pelo Mundo (epíteto do Buda).
MAHASATTVA - Grande Ser (epíteto dos Bodhisattvas).
MONTE SUMERU - Refere-se ao eixo energético deste mundo.
NAYUTA - Dez mil unidades de tempo.
NIRVANA SEM RESÍDUO ( PARINIRVANA) - A mais elevada forma de Nirvana que é a total extinção dos elementos kármicos.
PEQUENO DHARMA - Termo pejorativo usado para as doutrinas não mahayanistas caracterizadas pelo egoísmo e falta de compaixão. Também refere-se à crença na existência substancial de fenômenos como elementos da realidade.
PRAJNAPARAMITA - A prática da mais elevada forma de sabedoria budista realizada pelos Bodhisattvas. Esta sabedoria (prajna) permite o conhecimento intuitivo da realidade dos fenômenos, resultado da direta realização do vazio. Perfeição da sabedoria.
QUATRO TIPOS DE BENEVOLÊNCIA - A proteção recebida da Tríplice Jóia, pais e mestres, amigos espirituais e seres viventes.
SAMADHI - Um profundo estado de concentração resultado da focalização contínua num único objeto.
SERES VIVENTES - Todo tipo de vida que possua forma material ou não.
SETE TESOUROS - Materiais muito apreciados como ouro, prata, berilo, coral, esmeralda, pérola e diamante.
SROTAAPANNA, SAKRDAGAMIN, ANAGAMIN e ARHAT - Os quatro níveis de desenvolvimento da purificação mental.
SUBHUTI - Um dos mais sábios e antigos discípulos do Buda Shakyamuni. O seu interlocutor neste Sutra.
TATHAGATA - Outra forma de nos referirmos ao Buda.
TATHATA - Tal como é ou talidade.
TERRAS DE BUDA - Mundos onde um Buda assume a responsabilidade de libertar os seres com seus ensinamentos. Há infinitas terras de Buda com vários níveis de perfeição ou pureza.
TRÊS MUNDOS -
1- Mundo do desejo – É a região mais baixa deste mundo. Está habitada por seres, desde os infernos até as seis primeiras regiões dos deuses incluíndo o reino humano. Caracteriza-se pelo desejo ou ânsia.
2- Mundo da forma – É a segunda região e está habitada por diversos seres divinos com forma, mas sem desejo.
3- Mundo da não forma – É a terceira das regiões e está habitada pelos deuses e sábios mais elevados sem forma e sem desejo.
TRÊS MIL GRANDES SISTEMAS DE MUNDOS - Há três categorias de mundos:
1- Um pequeno mundo - similar a um sistema solar.
2- Mundo médio - integrado por mil pequenos mundos.
3- Um grande mundo - integrado por mil mundos médios.
TRÊS NÍVEIS DE SOFRIMENTO - Renascer nos infernos, renascer como fantasmas famintos ou renascer como animais.
TRINTA E DUAS APARÊNCIAS - Perfeições apresentadas pelos Budas:
1- forma dos pés. 2- linhas nas plantas dos pés. 3- pele das mãos e dos pés. 4- forma dos dedos dos pés. 5- comprimento dos dedos das mãos e dos pés. 6- forma dos calcanhares. 7- comprimento das pernas e tamanho dos pés. 8- perfeição das coxas. 9- comprimento dos braços, as mãos chegam até os joelhos. 10- orgãos genitais retraídos. 11- pelos do corpo. 12- cabelos perfeitamente encaracolados. 13- pele perfeitamente clara e sem marcas. 14- Tom dourado. 15- plantas dos pés, palmas das mãos, ombros e pescoço (sete partes harmonizadas). 16- união dos ombros e pescoço com boa curvatura. 17- curvatura perfeita dos músculos da parte interna dos braços e dos lados do tórax. 18- coluna bem reta. 19- figura solene. 20- peso corporal de acordo ao tamanho. 21- frente e peito largos. 22- rosto brilhante e luminoso. 23- quarenta dentes brancos e perfeitos. 24- quatro caninos afiados. 25- hálito agradável. 26- língua que pode tocar a frente (capacidade de falar com pleno conhecimento). 27- voz elegante. 28- cílios longos. 29- globo ocular bem branco e o íris de muitas cores (azul e marrom). 30- rosto redondo como a lua cheia. 31- luz branca entre as sobrancelhas. 32- protuberância no topo da cabeça.
UPASAKA E UPASIKA - Laico e laico budista, quem tem tomado refúgio nas três jóias e mantêm os cinco preceitos.
BIBLIOGRAFIA
Texto em chinês do Mestre do Tripitaka Kumarajiva, traduzido durante a dinastia Yao Chin.
Comentários sobre os Sutras da Prajna, do Venerável Mestre Yinshun
Versão em inglês de Buddha’s Light Edition (tradução de Venerável Yifa, M.C.Owens e P.M. Romaskiewicz
ATUALIZAÇÃO DA PRIMEIRA VERSÃO DO SUTRA EM PORTUGUÊS REALIZADA POR:
Mestre Zhihan e Mestra Dzaudzan.
Revisão: Marinéa de Almeida Tallone, Ana Maria N. Hernandez.
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São Paulo, setembro de 2009
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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